O mês de março é marcado pela realização de diversas ações em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, homenagens justas por tudo que representam para a sociedade. Mais do que render homenagens, há a necessidade diária de o olhar estar voltado, também, para a necessidade de tornar o mundo mais seguro e justo para este grupo, hoje, maioria no país. Enquanto este objetivo ainda não é atingido, ações de acolhimento às meninas, mulheres e mulheres trans, vítimas de violência sexual, são mais que urgentes, algo que o Centro Materno Infantil de Contagem (CMI) se mostra referência.
Mais do que a proteção, amparo e cuidados, o CMI oferece diversos serviços com o foco no tratamento e suporte a meninas e mulheres que foram vítimas de violência sexual. Tudo começa na chegada à unidade, seja para primeiro atendimento ou encaminhada das Unidades Básicas de Saúde (UBS) ou Unidades de Pronto Atendimento (UPA). As meninas com idade até 12 anos são recebidas no pronto atendimento pediátrico, enquanto as de 13 anos em diante e mulheres são acolhidas no pronto atendimento obstétrico.
Segundo dados do Núcleo de Vigilância Epidemiológica Hospitalar (Nuveh), somente em 2023, foram notificados no CMI 201 casos de pessoas vítimas de violência, entre meninas e mulheres. Desse total, 143 foram casos sexuais, 44 física e outras 14 de violência autoprovocada (atentado contra a própria vida). Um dado cruel e alarmante é sobre a violência contra meninas entre 0 e 14 anos, que representa quase 60% dos casos atendidos (83), seguida pela faixa etária de 15 a 29 anos (40) e acima dos 30 anos (20).
De acordo com a enfermeira obstetra e gerente da Linha de Cuidados da Mulher do CMI, Hellen Carolina Santana, todas passam pela classificação de risco, mas sendo tratada sempre como caso de urgência. “Ela não vai aguardar muito tempo para ser atendida. A gente enxerga esse tipo de demanda como urgente. Assim, ela nem mesmo volta para o ambiente da recepção, entrando diretamente para o pronto atendimento até a assistência multidisciplinar”, explicou, ressaltando que o tempo de atendimento é 30 minutos.
A abordagem com uma equipe pluridisciplinar elimina a necessidade de que ela tenha que falar mais de uma vez sobre o que ocorreu. “A gente toma muito cuidado com isso, porque a cada vez que a paciente repete a história é como se ela revivesse a violência, o que só aumenta o sofrimento”, destacou Hellen Carolina Santana.
Serviços essenciais
Passada essa primeira etapa, são feitos os encaminhamentos de acordo com cada caso, segundo o tipo de violência e o tempo em que ocorreu, mas seguindo sempre protocolos bem estabelecidos. “Até dez dias após o ocorrido a gente pode colher vestígios da violência, o que é a nossa parte na cadeia de custódia, aplicando os protocolos e utilizando os materiais da Polícia Civil”, afirmou a gerente. Tudo é feito com o consentimento da paciente, ou dos responsáveis, no caso de crianças, quando está claro o entendimento para que haja uma investigação daquela violência.
O próximo passo é a proteção contra doenças ou mesmo a contracepção a partir da violência sofrida. “Seguimos com outras ações que, no caso da mulher, por exemplo, é a contracepção de emergência e a profilaxia para prevenir infecções sexualmente transmissíveis. Oferecemos a vacina contra a hepatite B e HPV, além dos testes rápidos de HIV, sífilis, hepatite B e C. A nossa equipe faz um atendimento amplo e acolhedor, tudo no hospital”, explicou Hellen Carolina Santana.
As pacientes são encaminhadas para seguir com o atendimento no Centro de Atenção Especializada Iria Diniz (CAE), onde serão atendidas por um infectologista que fará o acompanhamento dos riscos para as infecções sexualmente transmissíveis. “Ela sai daqui já com uma consulta marcada no CAE, que conforme a evolução do caso pode encaminhar para uma UBS até que o caso seja totalmente finalizado”, destacou a gerente.
Todo esse fluxo de atendimento foi elaborado pensando na acolhida e redução do sofrimento que a violência por si só já causa. “É um fluxo muito complexo, para o qual a gente faz treinamentos periódicos com a equipe todo ano. Isso porque se trata de um momento muito delicado e a gente busca enxergar a mulher de forma integral, oferecendo um atendimento o mais humanizado possível”, concluiu Hellen Carolina Santana.